<span class=”abre-texto”>Sou mentora e meu trabalho é mediar</span> o processo de desenvolvimento dos meus clientes. Encontrar a si mesmo, entender os diferentes papéis e os impactos de si nas outras pessoas e das outras pessoas em si, faz parte desta caminhada.

A beleza da caminhada de uma mentora é acompanhar o relato, entender a história e olhar o mundo através dos olhos da pessoa à minha frente. Uma missão delicada, que envolve profundo respeito e reverência aos diferentes momentos da vida da pessoa.

Tenho clara noção do privilégio e da potência da missão. Sou abduzida por este mundo extraordinário e tenho consciência da sua amplitude. No campo relacional do desenvolvimento tendemos, meus clientes e eu, a flexibilizar nossos quadros de referência, o desenvolvimento depende disto. Sem conhecer e reconhecer pouco há a expandir.

No entanto, flexibilizar abre as portas das vulnerabilidades das pessoas no campo dialógico da mentoria. No que é um risco emocional em potencial, conteúdos relevantes, cuidadosamente escondidos, podem vir à tona e precisam de acolhimento cuidadoso e respeito profundo.

Como mentora não me é possibilitado mediar o processo da pessoa que atendo, apoiando a superação de aspectos ignorados, se não supero, permanentemente, meus próprios impasses internos.

Não posso partilhar o que não vivi. Não posso ensinar o que não sei. Não posso encorajar se o medo ou a arrogância esconde o mundo do meu olhar atento.

Preciso ter consciência de que preciso saber, mas saber não é apenas falar, pois as palavras são carregadas pelo vento. O encontro de desenvolvimento é vida em andamento, a vida de cada pessoa dará sentido ou não ao que for comunicado.

A prática adotada no contato comunicará mais do que o mais espetacular discurso. O respeito pragmático dará espaço para indagações, dúvidas, inspirações, medos, raivas.

Neste espaço cuidado, as pessoas poderão afastar as cortinas e desvelar aspectos de si no mundo, com a segurança da presença atenta e sintonizada da mentora ao seu lado. A jornada de desenvolvimento se dará através de sequência de experimentos e pequenas descobertas.

Há uma curva de aprendizado visível, que cada pessoa transita em seu próprio ritmo. Inicialmente mais estruturada, até que conhecimentos sejam conhecidos ou reconhecidos. Em um segundo momento, quando a pessoa converte os novos repertórios em prática, cabe a quem orienta observar e corrigir rotas, até que as novas habilidades estão testadas e instaladas.

O voo autônomo estará planejado, e, de vez em quando, a troca de percepções dará maior riqueza ao voar. É a última etapa. Prontos para a despedida, as pessoas alteram os contratos de convivência para encontros eventuais para nutrição do campo relacional.

Não será um processo bem-sucedido se a pessoa orientada se converter em um clone da mentora. Desenvolver é partir dos repertórios próprios e atualizá-los. Fazê-lo com apoio não pode significar não honrá-los. Em alguns momentos, honrar e dispensar, em outros incorporar repertórios inéditos. A pessoa que orienta qualifica e estimula asas. Haverá o tempo que admirar o voo é só o que precisa ser feito.

E o Grilo Falante?

Vem como um sinalizador constante, sussurrando no meu ouvido: “mantenha-se atenta e preparada, cuida de si mesma para ter espaço para as outras pessoas que buscam sua companha na jornada de desenvolvimento. Segue estudando, muitos aspectos quando conhecidos pareceram menos ameaçadores. Mantenha contato com as pessoas do seu bem-querer, o amor incondicional será requerido, seu estoque precisará reabastecimento constante. E quando a lucidez se afasta, busque, sem pudor, ajuda das pessoas que partilham a vida com você. Uma escuta sem julgamento pode ser uma dádiva”.