<span class=”abre-texto”>Estive, nos últimos dias, envolvida em bancas</span> de certificação, nas quais alunos apresentavam seus trabalhos e atendiam aos examinadores em demandas de aprofundamento conceitual. Coordenei muitas delas.

Minha proposta interna foi promover um campo dialógico, no qual a pessoa se sentisse muito à vontade para partilhar seus conhecimentos e práticas. Para minha alegria, meus parceiros também estavam animados com esse mesmo propósito e seguimos, maravilhados, percebendo pragmaticamente o poderoso impacto do afeto no ato de aprender.

Ao perceber o olhar validador e o real interesse em suas jornadas, cada aluno pode brilhar, sem medo, sem constrangimento e, talvez o mais relevante, pode mostrar os diferentes aspectos das teorias e práticas segundo seu próprio quadro de referência.

Ao final, todos aprendemos. Inclusive com esta (ainda) revolucionária ação que é a convivência cooperativa.

Aprender é relacional. Lev Vygotsky (1896-1934) enfatizava, dentre outras propostas muito relevantes, a importância da afetividade nas relações sociais na sala de aula. Tão assustadora proposta fez com que a obra do jovem psicólogo fosse banida no seu país, a União Soviética, devido à ação de censura do regime stalinista. Vygotsky foi ignorado no Ocidente por décadas e sua obra foi publicada no Brasil meio século depois do seu falecimento.

A ideia de Vygotsky é proporcionar um ambiente colaborativo, que possibilite a livre troca de ideias e a construção de conhecimento também por meio das interações laterais. O diálogo simétrico com o professor faz parte do processo. E o papel central desse professor é de mediador e facilitador das interações.

Paulo Freire (1921-1997) aposta nos campos dialógicos, nos quais todos colaboram na construção do conhecimento. Nessa proposta, que honra a ética da simetria, professores e alunos, com seus respectivos quadros de referência qualificados, participam ativamente da construção do conhecimento.

Neste momento, penso nos tantos mestres inspiradores da minha prática como facilitadora do aprendizado. E a eles faço uma reverência. Os dois acima citados, revolucionários pelo humanismo, assustaram, cada um a sua época, aqueles que desejavam bloquear o aprendizado do pensar.

É perigoso pensar. É libertário pensar. E todos nós humanos temos a vocação libertária para pensar.

Do ponto de vista de quem quer controlar, a liberdade é perigosa demais da conta, pois o mundo precisa ser imagem e semelhança do poderoso (pseudo poderoso, melhor dizer). Nesse cenário, o que vale é o que foi decidido valer, o que existe é o que foi decidido existir e só se pensa no que foi permitido pensar. Mas existe um caminho diferente.

O que assisto, participo e celebro é a expansão dos quadros de referências dos alunos e do meu quadro de referência, em um ambiente acolhedor, no qual os vínculos afetivos e emocionais são bem-vindos.

Nas nossas interações, o conhecimento é construído e partilhado pelo grupo. Vejo os alunos promovendo ações consequentes ao aprendizado e, a partir dessas experiências, expandirem sua capacidade de pensar.

O vínculo afetivo-emocional é gerado a partir de lembranças e experiências intersubjetivas e está em constante expansão. Os comportamentos, valores e sentimentos observados e qualificados durante os eventos de aprendizagem permitem a percepção dos impactos nos outros e em si mesmo – o que pode levar a elaborações preciosas.

Podemos nos alterar ao conviver, podemos aprender na convivência. Podemos expandir nossas capacidades em relacionamentos cooperativos e podemos nos encolher absurdamente para caber em relacionamentos de abuso de poder. Parece uma escolha simples, objetiva, direta. Mas não é. Sei que é complicado nos desfazermos das diferentes camadas adquiridas em diferentes ambientes de comando-controle.

Minha proposta hoje é: experimente o diálogo cooperativo. Filhos, alunos, colaboradores, parceiros, amigos, amores – todos se expandem nesse fluxo.

Pequenas experiências revolucionárias constroem pontes de afetividade que, quando consolidadas, permitem o tráfego da maior das revoluções: a de aprender pelo amor.