<span class=”abre-texto”>Dizer Olá e dizer Adeus</span> são dois momentos tão delicados e tão complexos para nós seres humanos. Quando a convivência que se apresenta é em um grupo, podemos multiplicar tal complexidade pelo número de pessoas que ali estão.
Chegamos a qualquer grupo com nossa mochila de vida cheia de experiências, fantasias e expectativas. Olhamos à nossa volta buscando entender quem é quem, nosso cérebro fazendo conexões, checagens e combinações frenéticas. Aspectos que lembramos e aqueles dos quais não lembramos vão costurando uma ideia do que será nossa vida junto com aquelas pessoas. As pessoas ainda serão percebidas de modo indeterminado, mais conectadas as lembranças de quem percebe do que à realidade.
Haverá, neste momento de início, uma grande dúvida que paira na cabeça da pessoa que chega (consciente ou inconscientemente) a grande dúvida: serei ou não aceita? Na cabeça das pessoas que recebem quem chega, transita rapidamente ou não, medo dos impactos que a recém-chegada pode gerar no equilíbrio social daquele grupo.
Um movimento especial será relevante para quem chega: identificar o líder do grupo. Ser aceito por este líder é missão primária de “sobrevivência”.
Quando a convivência começa a acontecer, a realidade vai aos poucos sobrepujando a fantasia, a coreografia de relacionamentos do grupo se estabiliza a partir de contratos explícitos ou entendimentos tácitos.
Para cada pessoa do grupo, as demais já serão percebidas individualmente. O medo de não pertencer estará mais ou menos debelado e todos se sentem confortáveis para relaxar um pouco a ansiedade.
Contudo, qualquer pequena alteração lembra a todos o risco de ser ou não parte. Por um tempo reduzido, as dúvidas voltam a fazer parte do grupo. Que se estabiliza cada vez mais rapidamente a cada impacto.
A estabilização não é uma linha reta, mais uma onda que navega por altos e baixos. É uma estabilidade dinâmica: mantemo-nos juntos e separados, simultaneamente. Aos poucos, boa parte das pessoas naquele grupo vão conhecendo melhor a cada uma das outras pessoas, estabelecendo relacionamentos mais próximos, mais livres, mais espontâneos. Não acontece com todos os grupos, mas quando acontece este grupo será forte e coeso e alcançará seus objetivos de modo mais fluido e tranquilo.
A vontade é que o grupo se mantenha. As pessoas farão individualmente movimentos para garantir e existência do grupo. Gestos de afeto e cuidado.
Todos sentem a delícia da convivência que inclui ser entendido, validado, valorizado, reconhecido. Cada uma das pessoas se sente amado pelo líder, e o líder não é mais detentor do pseudo poder. O líder já é “um de nós”. Estaremos mais juntos que separados e seremos capazes de adiar o atendimento das nossas necessidades individuais pela e em nome da sobrevivência do grupo. São momentos que serão resguardados na memória associados a “tempo bom”.
Grupos que evoluem assim experimentam, genuinamente, relacionamentos lastreados pelo amor inequívoco. Os diálogos são sintonizados e há curiosidade para entender o outro, seus pontos de vista, seu mundo.
Depois de viver tais etapas, alguns grupos precisam enfrentar o luto da despedida. São grupos com tempo de existência limitado, um prazo que todos conhecem. Contudo, na exata medida em que a intimidade se instala, a possibilidade do fim é desqualificada. E ele chega. Meio sorrateiro, sem grandes ruídos. É hora do grande susto. Parece quase uma injustiça. “Não é possível que tenhamos que abrir mão desta convivência preciosa!”.
A inquietação se instala, as pessoas expressam raiva ou tristeza ou inadequação. Natural. Sem um destino claro para a exasperação, as pessoas em volta serão destino de iscas e alfinetadas. Parece tão estranho a raiva associada às despedidas, não é? Difícil de assumir, aparentemente pouco aceita. Mas lá estará, no subterrâneo das despedidas. Não pode fazer morada, dominar território, porque a raiva pode extrair a doçura das boas lembranças. É hora de lembrar as razões pelas quais o bem-querer existiu até aqui e começar a ritualizar o adeus.