<span class=”abre-texto”>Há alguns dias, participei de um evento</span> com dezenas de pessoas, de diferentes origens, reunidas por um propósito comum e separadas por interesses distintos. Do meu ponto de observação, via os movimentos – quase uma coreografia – das pessoas buscando, cada uma, seu espaço de inclusão.
Dentro do meu condomínio mental, ocorria uma coreografia semelhante, talvez ligeiramente mais lúcida, pela minha intenção deliberada. Também examinava as possibilidades de acolhimento e aceitação.
Viver e observar o fenômeno me levou a pensar e refletir – inclusive sobre a expansão do movimento humano para os grandes grupos.
Pertencer é uma das condições do sobreviver, tão séria que ser excluído pode parecer uma pequena morte.
Sente-se pertencente aquele que é reconhecido (percebido), validado, valorizado, respeitado na sua singularidade. Importante lembrar que nós, humanos, aprendemos nos relacionamentos. Logo, se este espaço relacional não é seguro para a pessoa acontecer e se expressar, o processo de desenvolvimento paralisa para dar espaço aos de defesa e sobrevivência.
Precisamos uns dos outros biofisiologicamente. O isolamento social adoece, extrai da pessoa o ânimo, o entusiasmo, a alegria e, aos poucos, os movimentos.
De vez em quando, é muito bom um tempo de quietude e silêncio para pensar, contemplar, desfrutar da própria companhia.
Esse isolamento sazonal é extraordinário para quem tem relacionamentos estáveis e significativos aos quais voltar. Pois não é a multidão à volta que nos faz sentir incluídos; pertencer está muito alinhado a ser entendido.
Nos olhos das pessoas adultas que me rodeavam no evento onde estive, transparecia a agonia da criança interna buscando seus companheiros próximos. Os folguedos, todos muito superficiais, facilitavam a busca. Aqui e acolá, um encontro verdadeiro. Dava gosto ver. Olhos nos olhos, abraços longos e conversas demoradas.
A pressa acaba quando o pertencimento acontece. A agradável sensação de “aqui é meu lugar” é quase impossível de ser contida em palavras.
Muitas vezes, nesses encontros verdadeiros, o sentir-se pertencente quase vem acompanhado de um suspiro de alívio. Para quem observa, o alívio invade o rosto. É lindo de ver.
Aqui do meu lugar de observação, acredito que precisamos saber o que precisamos, afinal de contas. Pois há um risco grande da sedução de falsas inclusões que nos levam ladeira abaixo para propósitos que não são coerentes conosco.
Se tenho consciência, se sei o que me fará ter o senso de pertencimento, posso escolher a que grupo me aproximar. Claro que este movimento de consciência e busca precisa acontecer em períodos de nutrição emocional, pois na escassez qualquer companhia é companhia.
A ausência de lucidez pode gerar comportamentos extorsivos para entrar ou ficar em qualquer grupo. A imagem que me assombra é a de uma formiguinha com um pires na mão mendigando migalhas de atenção.
No evento, encontrei pessoas do meu bem pertencer e pude, nutrida por este amor incondicional, proteger-me de tentações perigosas.